14.1.11

O Hospital do Futuro

Atualmente, os hospitais passam por uma nova fase de conceituação, que influi diretamente em seu projeto arquitetônico; não são transformações tão focadas e relacionadas aos seus aspectos físico-funcionais, mas, em suas particularidades, nos detalhes, na ambientação, nos aspectos de conforto ambiental e na sustentabilidade. Possuindo como objetivo principal conferir aos pacientes um ambiente propício para a sua cura; os projetos se apoiam em inúmeros estudos, que mostraram que o ambiente construído pode auxiliar de forma positiva ou negativa a sensação de bem-estar e o tratamento terapêutico dos pacientes.
O “Hospital do Futuro” não possui uma missão somente de cura ou, de tratamento da doença, ele desempenha uma função mais ampla. Dedica-se à formação continuada, como centro de ensino; desenvolve ação múltipla junto à sociedade, como instrumento de prevenção às doenças por meio de campanhas e atividades voltadas para a promoção à saúde e também possui uma vertente tecnológica e científica, como local de desenvolvimento de pesquisas focadas, na medicina, no paciente e até mesmo, na própria arquitetura.
Com os avanços tecnológicos cada dia mais modernos, a medicina, a biologia, a química, a física são disciplinas que se juntam para explicar as doenças, curas e descobrir tratamentos de saúde. As instituições hospitalares de simples prestadores de serviços médicos, hoje, concentram grande parte da produção de conhecimento com modernos centros de pesquisas e pesados investimentos em laboratórios.
O edifício hospitalar novamente volta ao centro da atenção, sendo debatida sua real importância para o processo terapêutico de cura e bem-estar do paciente; o arquiteto, por sua vez, é o articulador dessas inovações, sendo o mediador entre os agentes multidisciplinares que constituem a base do planejamento hospitalar.
O foco do serviço hospitalar deixa de ser a doença, e passa a ser a promoção da saúde. Os administradores e colaboradores da instituição “hospital” voltam-se para o paciente, sendo esse o grande pivô das transformações do ambiente hospitalar.
Segundo Ulrich (2000b), a motivação para essas transformações são as evidências científicas que as características físicas do ambiente, de fato, influenciam nos resultados de saúde dos pacientes. Pesquisas mostraram que um ambiente bem projetado reduz a ansiedade e diminui a dor, entre outros fatores, paralelamente, outras pesquisas avaliaram a relação entre os ambientes com design “pobre” ou, que não tinham suporte psicossocial, com efeitos negativos, como aumento do tempo de internação, maior ocorrência de delírios e maior consumo de medicamentos, entre outros.
Ulrich menciona que a Johns Hopkins Medical School, sob a liderança de Haya Rubin, fez uma avaliação sobre o estado das pesquisas que relacionam o ambiente com a saúde. A investigação achou aproximadamente 100 publicações sobre o tema, que mesmo sendo uma quantia pequena de pesquisa para estabelecer padrões na área médica, muitas dessas são de qualidade, e podem justificar as evidências que os aspectos do ambiente construído ocasionam efeitos significativos nos resultados clínicos dos pacientes. Essas considerações encorajam mais estudos e, de certa forma, incentivam as discussões acerca do tema.
Nesse sentido, os projetos e serviços hospitalares, atualmente, estão sendo embasados por dois conceitos. O primeiro é o conceito evidence-based design (EBD), de acordo com a publicação Light [...] (2001), esse conceito pressupõe que o design seja elaborado baseado em evidências. O segundo conceito é baseado nas premissas de design, divulgadas pela Planetree, patient-centered care (cuidados focados no paciente). Dentre os princípios estabelecidos pela organização, estão o entendimento que a estrutura física é vital para o processo de cura e, portanto, deve ser desenhada para promovê-la e que o tratamento médico deve ter como suporte um ambiente confortável, ameno e acolhedor.
Os dois tipos de abordagens, acima mencionados, vêm se alastrando rapidamente nos Estados Unidos, e mais recentemente na Europa. Suas aplicações são especificamente voltadas para o desenvolvimento da arquitetura hospitalar, de forma a suportar as ações nos projetos de arquitetura.
Os hospitais que são considerados linha de frente do séc. XXI, e denominados de “Hospital do Futuro” por arquiteto, engenheiros, construtores e administradores, utilizam-se dos conceitos acima mencionados para a elaboração de seus ambientes.
Longe de ser futurista, o “Hospital do Futuro” é intimista. Procurar trazer ao ambiente impessoal hospitalar o aconchego do lar, a familiaridade para que o paciente se sinta seguro, a ponto de seu tratamento terapêutico ser beneficiado pelo ambiente e pelo bem-estar gerado a partir desse.
O edifício é projetado por um arquiteto com visão holística, no sentido de possuir amplo conhecimento de diversas áreas, que passa desde as ciências exatas às ciências humanas, com maior ênfase para as disciplinas da psicologia, neurociência e psicofísica. Da integração e das inter-relações dos conhecimentos dessas disciplinas, o arquiteto projeta um ambiente mais completo, no sentido de suprir todos os anseios dos pacientes e usuários, nas dimensões físicas e nas psicossociais. As relações sociais estabelecidas, no “hospital do futuro”, vão além do domínio do quarto, ampliam-se para o exterior, com acesso a belos jardins e a outras distrações projetadas como suporte para elas.
Dilani (2000, p.31) nos fornece alguns dados:

A avaliação holística de ambientes de trabalho sob uma perspectiva
multidisciplinar, considerando os fatores psicossociais, físicos e culturais
como também os ergonômicos, têm estado desde muito longe limitada. [...] Com
avaliações, ainda na fase inicial, podemos evitar consequências de um ambiente
de trabalho inadequado [...] Processos de promoção à saúde estão se tornando
cada vez mais fatores centrais na criação de instalações de cuidado médico.
Neste novo paradigma, o foco está nos pacientes: as necessidades de sua saúde
física e as necessidades da saúde psicológica e social [...] enfatizadas no
design de ambientes hospitalares.

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